Mais uma <i>troika</i>

Anabela Fino

«Temos de crescer, mas não podemos crescer se não temos competitividade. Daí que haja maneira de ajustar o sistema fiscal para criar essa competitividade e fazer as reformas estruturais que há muito foram desenhadas mas não executadas e por isso é que esta gente toda aqui gritou: execução, execução, execução.»

As palavras são do economista Braga de Macedo, que esta segunda-feira se juntou a outros dois próceres da nação – Pina Moura e João Salgueiro – para clamarem a urgência da aplicação das medidas acordadas por PS, PSD e CDS com a troika, quais carrascos ansiosos de aplicar o cutelo no pescoço da vítima antes que esta se lembre de estrebuchar.

Para quem já se esqueceu importa lembrar que Braga de Macedo – membro do PSD e ex-ministro das Finanças de Cavaco Silva – tem no seu currículo, entre muitos títulos académicos, uma vasta experiência profissional aquém e além fronteiras, incluindo a de consultor de instituições como a CIP, Banco Mundial e FMI, só para citar alguns exemplos. Quer isto dizer que Braga de Macedo tem obrigação de saber do que fala.

Em boa verdade deve dizer-se o mesmo de Pina Moura, que corroborando Macedo foi avisando que «os mercados reagirão aos bons e aos maus sinais e aos sinais equívocos», pelo que para os «convencer» são necessárias «reformas estruturais (...) ao fim e ao cabo todo o cardápio de medidas e de decisões que constituem a chamada troika».

Pina Moura, recorda-se, depois de estagiar no governo PS franqueou as portas do Banco Comercial Português, da Galp Energia, da Iberdrola, do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento, e aparece agora no que se poderá chamar em rota de convergência com o PSD.

Também João Salgueiro foi dizendo que «temos de tomar à letra este programa» e «executá-lo o mais depressa possível, sem demoras», porque «se o executarmos de forma exemplar e se anteciparmos os efeitos em relação ao que se espera de nós, vamos surpreender pela positiva e essa é a melhor maneira de combatermos a má imagem que temos nos mercados».

João Salgueiro, convém ter presente, iniciou-se nas lides governativas no tempo de Marcelo Caetano, cativado pela «Primavera Marcelista»; aderiu no pós 25 de Abril ao PSD e fez um longo percurso no aparelho de Estado, incluindo as Finanças, sem esquecer o Banco de Portugal, o Banco de Fomento Nacional, a Caixa Geral de Depósitos, a Associação de Bancos Portugueses, só para citar o mais sonante da história.

Temos pois mais esta troika – no caso de economistas implicados até ao tutano na condução das políticas responsáveis pelo estado a que isto chegou – tão cheia de pressa de levar a cabo a sentença da troika estrangeira que não se coíbe de gritar: execução, execução, execução.

Execute-se o direito ao trabalho. Execute-se o direito à Saúde. Execute-se o direito à reforma. Execute-se o direito a uma vida digna. Execute-se o futuro do País. Execute-se...

Até parece que Macedo, Moura e Salgueiro estão com medo de que o povo acorde, abra os olhos e os ouvidos e a execução seja outra. É que esta “coisa” da informação pode não disparar, mas lá que é uma arma, isso é.



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